Moçambique. Antigos guerrilheiros da moçambicana Renamo voltam a exigir saída de Momade
Antigos guerrilheiros da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) voltaram hoje a exigir a saída de Ossufo Momade da presidência do partido, que perdeu o estatuto de líder da oposição em Moçambique, responsabilizando-o pela crise naquela formação política.
“A queda da Renamo, hoje, o responsável é o senhor Ossufo. Ele está ali simplesmente para receber benesses da Frelimo [Frente de Libertação de Moçambique, no poder]”, acusou Edgar Silva, um dos desmobilizados da Renamo que estão reunidos, em conferência nacional, no Chimoio, província de Manica, para debater o momento do partido e definir soluções.
“Nós queremos que deixe o nosso partido, porque doravante vamos ficar sequestrados. Esta agenda não é nossa”, disse ainda, acrescentando: “Nós queremos organizar o partido”.
João Machava, porta-voz deste grupo de desmobilizados, que nos últimos meses tem promovido o encerramento forçado de várias sedes da Renamo em todo o país, contestando a liderança de Ossufo Momade, afirma ser necessário “refundar o partido”, definindo para isso “estratégias e decisões claras”.
“Temos a missão de tudo fazer para devolver e reconquistar a confiança do partido pelo povo moçambicano”, disse Machava aos jornalistas, à margem do encontro no Chimoio.
A Renamo perdeu o estatuto da segunda força política mais votada nas eleições gerais de 9 de Outubro de 2024, passando de 60 deputados, nas legislativas de 2019, para 28. Desde então, a contestação ao actual líder do partido, que já se fazia sentir, intensificou-se, com ex-guerrilheiros a encerrar delegações do partido, com exigências de realização de um Conselho Nacional do partido, obrigando à intervenção da polícia, nomeadamente na sede nacional, em Maputo, com mais de meia centena de detidos.
O partido chegou a anunciar a realização do primeiro Conselho Nacional de 2025 — estatutariamente tem de organizar dois por ano — em 7 e 8 de Março, que foi depois adiado, sem nova data. A direção da Renamo já reconheceu a obrigatoriedade de realizar dois conselhos nacionais por ano, mas afirma que não é obrigatório que aconteçam em semestres diferentes.
Momade, cuja demissão tem sido pedida, é também acusado de alegada “má gestão”, falta de pagamento de pensões e subsídios e falta do fundo de funcionamento da formação política e de “incompetência total” face à crise na Renamo.
Alvo das críticas dos antigos guerrilheiros, Ossufo Momade assumiu a presidência da Renamo em Janeiro de 2019, após a morte de Afonso Dhlakama (1953-2018), e foi reeleito para o cargo em Maio de 2024, num processo fortemente contestado internamente.
Momade foi candidato presidencial nas eleições de Outubro de 2024, obtendo 6% dos votos, o pior resultado de um candidato apoiado pelo partido, principal força de oposição em Moçambique desde as primeiras eleições em 1994.
Durante 16 anos, Moçambique viveu uma guerra civil, que opôs o exército governamental e a Renamo, tendo terminado com a assinatura do Acordo Geral de Paz, em Roma, em 1992, entre o então Presidente, Joaquim Chissano, e Afonso Dhlakama, líder histórico da Renamo, abrindo-se, assim, espaço para as primeiras eleições, dois anos depois.