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Vistoria técnica do Laboratório de Engenharia de Angola não detectou ‘perigo iminente’ de derrocada do prédio que ruiu

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Um serviço de vistoria técnica, realizado no dia 21 de Março do corrente ano, pelo Laboratório de Engenharia de Angola (LEA) — órgão afecto ao Ministério das Obras Públicas, Urbanismo e Habitação —, não detectou, de imediato, um perigo iminente de desabamento do edifício n.º 41, que veio a ruir quatro dias depois, na madrugada do último sábado, 25, sem fazer vítimas humanas.

O relatório da referida vistoria técnica — datado de 22 de Março de 2023, a que o !STO É NOTÍCIA teve acesso, dirigido ao presidente da Comissão de Moradores do prédio em causa,  António Fernandes — em momento algum se debruça sobre o perigo iminente de derrocada do imóvel, muito embora, por um lado, tivesse reconhecido a “gravidade da situação”, e, por outro, chegado a três conclusões:

“Que a ruptura da tubagem da rede de distribuição de água do edifício vizinho, cujas águas, possivelmente, estariam a contribuir para a perda de capacidade de suporte do solo de fundação, foi reparada;

Que as orientações para que os moradores aliviassem a carga (retirando mobílias e outros artigos pesados) das varandas da fachada principal do edifício não estão a ser cumpridas;

Que as causas das sobrecargas evidenciadas pela destruição de três pilares redondos da fachada principal do edifício ainda estão activas e continuam a sobrecarregar os restantes pilares.”

Assinado pelo director-geral do Laboratório de Engenharia de Angola, Fernando Alcino Borges Bonito, o documento — também enviado com conhecimento para o secretário de Estado das Obras Públicas, para o vice-governador da província de Luanda para a Área Técnica, para o comandante do Serviço de Protecção Civil e Bombeiros, para o administrador do Município de Luanda e para o Conselho de Administração da ENSA — deixa várias recomendações técnicas (e outras pontuais aos moradores), sem que nenhuma delas se refira, de forma clara e objectiva, à “evacuação imediata do edifício”.

Em face das constatações e da gravidade das anomalias observadas durante a vistoria técnica, e, principalmente, com o propósito de assegurar que a progressão das anomalias observadas não agravassem a estabilidade e segurança estrutural do edifício, o LEA recomendou que se contactasse, de imediato, uma empresa especializada, com a finalidade de “elaborar uma nota técnica e efectuar, o mais rapidamente possível, um escoramento com perfis em L, de forma a diminuir as sobrecargas dos pilares ainda activos”.

O “escoramento com perfis em L” consiste num trabalho de engenharia civil baseado na criação de um revestimento ou reforço estrutural dos pilares através de perfis. Ou seja, é uma técnica que tem como objectivo reforçar a estrutura que sustenta um determinado imóvel.

O relatório de vistoria técnica do LEA recomendava ainda que os moradores diminuíssem de imediato as cargas da parte frontal do edifício, mudando todos os mobiliários e outros objectos pesados para as varandas da parte posterior do edifício, e propunha, igualmente, o início imediato da reparação de todas as redes técnicas do edifício, principalmente a rede de distribuição de águas e das redes de esgotos.

Para isso, reforça o documento, os geradores que se encontravam ao redor do edifício teriam de se manter desligados, enquanto durassem as intervenções para o asseguramento da estabilidade do edifício.

Uma outra recomendação foi a de que se devia “manter o edifício sob observação, de forma a acompanhar a progressão das anomalias observadas e detectar o mais rapidamente possível eventuais desenvolvimentos que pudessem colocar em causa a estabilidade e segurança estrutural do edifício”.

“Realizar sondagens e ensaios de prospecção geotécnica, para caracterizar o actual estado do solo de fundação do edifício” e “reunir todos os documentos técnicos existentes, nomeadamente projectos de estrutura e de fundações”, para que se pudesse “elaborar o projecto de reabilitação e reforço estrutural” foram outras das recomendações do Laboratório de Engenharia de Angola.

O edifício n.º 41, de seis andares, que se localizava na Avenida Comandante Valódia, na zona do Kinaxixi, ruiu na madrugada do dia 25 de Março do corrente ano, por volta das 2h00, sem fazer vítimas humanas.

Durante dois dias consecutivos, o Governo da Província de Luanda (GPL), o Serviço de Protecção Civil e Bombeiros, a Polícia Nacional e outros serviços de apoio operacional estiveram a trabalhar no sentido de recolher todos os escombros resultantes do desabamento do prédio, que tinha como proprietário a empresa Fundinvest.

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