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Escândalo em Brasília: chefe adjunto da escolta de João Lourenço agride activistas e acaba detido

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O chefe adjunto da Unidade de Segurança Presidencial (USP), o brigadeiro Santos Manuel Nobre, conhecido pela alcunha de ‘Barba branca’, foi, nesta sexta-feira, 30, o principal protagonista de um caso “insólito”, ao liderar um grupo de dez elementos — nove dos quais ligados à escolta do Presidente João Lourenço, que se encontra na capital federal brasileira para participar da tomada de posse de Lula da Silva —, numa ‘sessão’ de agressões e tortura físicas a três activistas residentes no Brasil.

O caso, que obrigou a intervenção dos agentes da ordem da Quinta Delegacia de Polícia Civil do Distrito Federal, teve lugar por volta das 20h40 locais (00h40 em Luanda), quando os activistas Francisco João Domingos ‘Jota Privado’, Magnos Zeferino Capemba Luís ‘Marley’ e um terceiro, identificado apenas por Fernando, abordaram alguns elementos da Unidade da Segurança Presidencial no interior do San Marco Hotel Brasília, onde estão hospedados.

À saída, tal como faz prova um vídeo posto a circular nas redes sociais, na madrugada deste sábado, por volta das 2h00, os três activistas foram abordados de forma truculenta pelo brigadeiro Santos Manuel Nobre, que, visivelmente agitado e emocionalmente descontrolado, tentava, a todo o custo, chegar ao alcance do telemóvel de Jota Privado, para o impedir de continuar a filmar.

Um segundo elemento da comitiva angolana, Adilson Rui Agostinho — técnico afecto ao Centro de Imprensa do Presidente da República (CIPRA) —, saiu do interior do hotel naquele instante e começou uma outra abordagem aos referidos activistas, para daí a seguir o brigadeiro ‘Barba Branca’ começar a agredir, com golpes no abdómen e no rosto, o também apresentador do canal EMSTV, da plataforma do YouTube, Jota Privado.

As agressões físicas continuariam, com Adilson Agostinho a envolver-se também num corpo a corpo com o activista Marley, enquanto o brigadeiro ‘Barba Branca’ continuava a perseguir Jota Privado, acertando-lhe com golpes, ora no rosto ora na parte do tronco, até este decidir ripostar com um violento golpe no rosto do oficial general, que caiu desamparado no chão.

Com a situação fora do controlo de ambos os lados, a segurança do hotel interveio na briga, poucos segundos antes de o vídeo ser interrompido, já que o brigadeiro havia virado as suas baterias para o activista Fernando, que registava, com o seu telemóvel, todas as cenas da agressão.

A sessão de tortura

Um segundo momento do episódio é descrito no boletim de ocorrência policial — e este muito mais próximo de uma cena de tortura —, tendo acontecido cinco minutos depois do primeiro, quando mais oito elementos, alegadamente afectos à USP, saídos do interior do hotel, se juntaram ao brigadeiro e ao jovem operador de câmara do CIPRA, para juntos partirem para uma nova sessão de agressões físicas contra o activista Jota Privado.

‘Choveram’ pontapés no rosto, tendo pelo menos dois deles atingido o olho direito do activista, que ficou bastante afectado, assim como foram também investidos outros golpes em direcção ao maxilar, ao lado esquerdo e direito da cara; aos lábios, que acabaram inchados e rebentados, assim como ao nariz, tendo provocado a Jota Privado uma forte hemorragia.

O activista Marley foi, entretanto, mais feliz: conseguiu desenvencilhar-se dos seus ‘algozes’ e colocar-se em fuga. Porém, não se poderá dizer o mesmo do terceiro elemento, o activista Fernando, que captava, pela segunda vez, as cenas das agressões. O activista acabou num cerco formado pelos ‘homens do Presidente João Lourenço’, sendo obrigado, a mando do brigadeiro ‘Barba Branca’, a entregar aos agressores o telemóvel onde tinha esse último registo videográfico das cenas de pancadaria.

Brigadeiro algemado e detido

As agressões a Jota Privado só iriam ser interrompidas quando os elementos da USP e o brigadeiro Santos Manuel Nobre, apercebendo-se da chegada da polícia ao terreno, se me meteram em debandada no interior do hotel.

No entanto, mais agitado e aparentemente sob efeito de álcool, o brigadeiro ‘Barba Branca’ regressaria ao exterior do hotel, onde, de forma pouco urbana, passou a dirigir-se aos agentes da polícia, o que lhe custaria uma ordem de prisão, tendo sido logo a seguir algemado e levado para a Quinta Delegacia de Polícia Civil do Distrito Federal.

Na delegacia de polícia, o delegado em serviço, Fábio Costa dos Prazeres, ordenou a abertura de duas ocorrências por lesões corporais; uma em que o queixoso é o activista Marley, e outra em que Jota Privado é o lesado.

O mesmo delegado de polícia acabaria por mandar emitir dois registos de ocorrência para a realização de ‘corpo de delito’, para que fossem reunidas as provas das agressões físicas a que foram os activistas alvos.

A ‘milagrosa’ chamada do embaixador

Entretanto, de acordo com depoimentos exclusivos dos activistas ao !STO É NOTÍCIA, as coisas mudaram de figurino com a chegada do primeiro conselheiro da Embaixada de Angola em Brasília à Quinta Delegacia de Polícia Civil do Distrito Federal.

Se por um lado, o brigadeiro não deixava de vociferar aos quatro cantos de que era um general e que não admitia ser humilhado, nem tampouco desrespeitado, por ter a patente superior a todos efectivos ali presentes, por outro, um telefonema alegadamente efectuado pelo embaixador angolano em Brasília à referida delegacia inverteu a ‘ordem de prioridades’.

Segundo o activista Jota Privado, a seguir à chamada do embaixador, de lesados os activistas passaram a uma espécie de ‘culpados’, por terem ido desassossegar os elementos da escolta presidencial. Segundo o activista, do embaixador teria chegado inclusivamente ‘algumas dicas’, para que Jota Privado e Marley fossem colocados em locais separados, para impedir que estes “fizessem concertações”.

Um outro caso revelado por Jota Privado e Marley foi o facto de, com a chegada do primeiro conselheiro da Embaixada de Angola à delegacia, a polícia brasileira ter permitido que o brigadeiro usasse o seu telemóvel e efectuasse várias chamadas e a eles ter sido proibido efectuarem sequer uma chamada a familiares.

O Brigadeiro diplomata

Além de praguejar e afirmar reiteradas vezes que era um general e que todos ali lhe deviam obediência por ter uma patente superior, o brigadeiro Santos Manuel Nobre recusaria a ser ouvido pelo delegado Fábio Costa dos Prazeres, alegando gozar de imunidades, por se tratar de um “diplomata”.

No entanto, o !STO É NOTÍCIA sabe que o mesmo não apresentou nenhum documento à Quinta Delegacia de Polícia do Distrito Federal, tendo, antes de mais, acusado os efectivos da polícia, que o levaram à esquadra, de o terem subtraído somas monetárias e de o terem agredido fisicamente.

Activistas e legisladores brasileiros exigiram, este sábado, 31, uma “investigação à agressão a um manifestante pró-democracia angolano, ocorrida na sexta-feira, 30, num hotel em Brasília”.

A tomada de posse de Luiz Inácio Lula da Silva acontece neste domingo, 1, e os mesmos activistas, que foram vítimas das agressões por parte dos homens da Unidade de Segurança Presidencial prometeram regressar, este sábado, ao mesmo hotel, onde devem seguir protestando.

 

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