Isto É Notícia

José Gama desafia a INDRA a disponibilizar o histórico das eleições em Angola, após a empresa afirmar que nunca foi processada por fraude eleitoral

Partilhar conteúdo

O jornalista angolano José Gama, radicado na África do Sul há largos anos e fundador e director do portal de jornalismo investigativo Club-K, desafiou, nesta quarta-feira, 16, a multinacional espanhola INDRA a colocar à disposição dos angolanos o material informático e tecnológico a ser usado durante as eleições de Agosto próximo, após a divulgação dos resultados, a fim de virem a ser consultados por qualquer angolano que queira analisar a veracidade dos mesmos.

Em entrevista à Rádio Despertar, José Gama contestou o facto de a INDRA não colocar à disposição da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) os softwares utilizados para a recolha e contagem dos resultados eleitorais após a sua divulgação, à semelhança do que a empresa espanhola faz com outros países onde também presta este tipo de serviço.

“É preciso questionar à INDRA do porquê que sempre que é contratada para fornecer a logística eleitoral nas eleições em Angola, ela leva consigo os computadores”, sugeriu o jornalista, chamando a atenção para o facto de Angola ser o único país na região da SADC que não tem em seus arquivos os resultados das eleições já realizadas.

“Se quisermos saber dos resultados obtidos a nível dos distritos e municípios nas eleições passadas, neste momento não há nenhum arquivo, pois a INDRA leva tudo consigo e as destrói. Ela priva os angolanos do direito à informação, que é um direito consagrado na Constituição da República de Angola”, exemplificou.

De forma a descomprimir as suspeitas de fraude a que está a ser alvo, José Gama sugere e desafia a multinacional espanhola a colocar à disposição de todos os angolanos, em simultâneo, através do site da CNE e dos partidos políticos, uma cópia dos resultados do escrutínio eleitoral, à medida em que os referidos resultados forem sendo divulgados pela entidade que superintende as eleições no país.

“Este é um procedimento de transparência que acontece em todo o mundo. A INDRA tem feito isso em outros países, e porquê não fazer também em Angola?”, questionou o jornalista, sublinhando que é possível “disponibilizar os resultados aos partidos dentro de 18 horas, evitando que os mesmos levem mais de 24 horas para serem contabilizados”.

O jornalista de investigação não tem dúvidas de que, aceitando o repto lançado, a INDRA reduziria, consideravelmente, a possibilidade de fraudes eleitorais e as suspeições que ano após a pós ano têm sido levantadas em Angola.

No seu histórico, a INDRA tem o registo de uma condenação em Espanha por comissões ilegais. A si foram também aplicadas sanções por actos fraudulentos conforme exposto no expediente S/DC/0627/18, de Maio de 2021, e o S/DC/056/15, de Julho de 2018, da Comissão Nacional dos Mercados e Competência de Espanha (CNMC), ambos citados pelo portal Club-K, do jornalista angolano radicado na África do Sul.

O !STO É NOTÍCIA fez uma busca ao portal da CNE, o órgão que organiza, executa, coordena e conduz os processos eleitorais em Angola, e constatou precisamente aquilo para o qual o jornalista José Gama chama a atenção: não existe no menu Eleições nenhum registo dos sufrágios universais  realizados em 2008, 2012 e 2017, nos quais a INDRA teve papel relevante no fornecimento de material logístico, informático e tecnológico.

Com a Rádio Despertar

Bernardo Pires

Artigos Relacionados